quinta-feira, 29 de abril de 2010

Faleceu João Morais, um dos "!Magriços"

A informação foi avançada pelo site oficial do Sporting. Faleceu João Morais, antigo jogador do Sporting, autor do golo de canto directo que deu aos leões a Taça dos Vencedores das Taças. A final de 1964 onde Morais se destacou foi disputada frente aos húngaros do MTK que os leões venceram por 1-0. João Morais tinha 75 anos e esteve em Alvalade entre 1954 e 1969. Nesse periodo conquistou também 3 Campeonatos Nacionais e uma Taça de Portugal.

Mais um grande leão que entra na galeria da eternidade, onde só os grandes como ele podem ter lugar!

A saber:

O herói Morais que nem estava convocado

João Pedro Morais, que morreu ontem, vítima de doença prolongada, nasceu em Cascais a 6 de Março de 1935.
Defesa e médio, jogou 11 épocas no Sporting (entre 1954 e 1969), entrando na história como autor do lendário golo de canto directo que valeu a Taça das Taças ao clube de Alvalade (1964) na finalíssima jogada em Antuérpia com o MTK Budapeste. Além do troféu europeu, Morais foi duas vezes campeão nacional, ganhou uma Taça de Portugal e, na selecção nacional, realizou 10 jogos, participando na campanha dos Magriços no Mundial de 1966 com a melhor classificação de sempre (3º lugar). Neste caso, como defesa-direito, ficou associado pelos brasileiros à lesão de Pelé no jogo que Portugal venceu por 3-1.
No culminar da campanha da Taça das Taças, Morais nem estava convocado para a viagem rumo à final no Heysel, em Bruxelas. Contudo, Hilário, o defesa-esquerdo titular, sofreu fractura de tíbia e perónio com o V. Setúbal no jogo anterior e o defesa/médio foi chamado à última hora pelo responsável pela equipa, Anselmo Fernandez. No primeiro jogo registou-se empate (3-3) e só a finalíssima levou o troféu para Alvalade com o tal golo no que ficou conhecido por "cantinho do Morais". Também neste caso houve história em redor do jogador que, na véspera, foi informado da decisão técnica de colocá-lo a extremo. "Só pedi que me deixassem marcar cantos, porque costumava treiná-los directos, combinando com Figueiredo para que este ficasse perto do guarda-redes e me servisse de referência", contou em 1995. Figueiredo, que jogou com Morais "durante sete ou oito anos", relembra como era: "Tínhamos uma amizade forte como sucede tantas vezes entre os pontas-de-lança e os companheiros que marcam os cantos. Ele pedia-me sempre que ficasse à frente do guarda-redes e, dessa vez, resultou em cheio."
Depois do Sporting, Morais viveu vários anos na África do Sul e, no regresso, ainda jogou pelo Rio Ave, passou mais tarde pelo cargo de director-técnico e ficou a viver em Vila do Conde.
Ontem, na sessão de treino, o plantel do Sporting homenageou o Magriço, tendo já apresentado condolências, tal como o fez a Federação. O funeral realiza-se hoje, em Vila do Conde, a partir das 16h30, saindo da igreja de São Francisco.

“Paulo Jorge Pereira”

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Predadores protetores

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Os insetos herbívoros da espécie Guayaquila xiphias – “parentes” próximos das cigarrinhas e dos pulgões – produzem uma substância açucarada que atrai formigas, garantindo sua defesa contra outros predadores. Mas os herbívoros também precisam de proteção contra as próprias formigas, que são os insetos mais agressivos da floresta.
Uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) demonstrou pela primeira vez que esses insetos herbívoros são capazes de se proteger contra os ataques de formigas por meio de uma camuflagem química.
O estudo foi parte da pesquisa de mestrado de Henrique Silveira, defendida na Pós-Graduaçao em Ecologia do Instituto de Biologia da Unicamp, sob a orientação dos professores José Trigo e Paulo Sérgio de Oliveira. Os resultados foram descritos em um artigo publicado em fevereiro pelos três autores na revista The American Naturalist, editada pela Sociedade Norte-Americana de Naturalistas.
A formiga é o artrópode mais abundante encontrado nas folhagens de ecossistemas tropicais. Vivendo nas folhagens, seus principais interesses são a busca de açúcar e a predação de insetos.
“Para um inseto herbívoro que vive nas folhagens, o risco de ser atacado pelas formigas é muito grande. Uma das formas que eles encontraram para minimizar esse risco é produzir gotículas de secreções açucaradas que induzem as formigas a mantê-los como fonte de alimento, em uma relação semelhante a que temos com o gado de leite”, disse Oliveira à Agência FAPESP.
Os criadores de gado, no entanto, não estão interessados apenas no leite: os animais servem também para corte. No caso das formigas não é diferente. “Além do açúcar, as formigas estão interessadas em proteínas. Queríamos saber o que impede que as formigas ataquem os insetos herbívoros depois de consumir o açúcar que eles produzem”, disse.
Ao atrair as formigas, os insetos Guayaquila, segundo Oliveira, conseguem um eficiente “guarda-costas” contra os predadores da floresta. Mas, com isso, ficam expostos exatamente ao mais agressivo de todos eles. Um verdadeiro dilema. Para escapar a essa ameaça, esses insetos desenvolveram, no decorrer da evolução, uma camuflagem que faz com que as formigas não os reconheçam como presas.
“Normalmente, quando pensamos em uma camuflagem, tendemos a imaginar um recurso visual, como uma mariposa disfarçada pela semelhança de suas asas com a casca de árvores. Mas o universo sensorial das formigas não é visual como o nosso – é predominantemente químico. Elas reconhecem o que tateiam com suas antenas”, explicou o pesquisador.
A camuflagem dos insetos herbívoros é, portanto, química. Isto é, sua superfície é quimicamente semelhante à superfície das plantas onde vivem. “Ao consumir a substância secretada pelos herbívoros, as formigas os percebem como se fossem glândulas da planta secretando o açúcar”, disse.
Para provar essa camuflagem, os pesquisadores traçaram o perfil químico da superfície do inseto herbívoro e o compararam com o perfil da superfície da planta, constatando uma plena semelhança.
O grupo experimentou ainda colocar o inseto herbívoro em uma planta que não se parecia quimicamente com ele. Nesse caso, as formigas atacaram. “Sabíamos, também, que se a hipótese fosse verdadeira, ao transferir o ‘vestido químico’ do herbívoro para um animal que a formiga normalmente come, ele também passaria a ser menos atacado”, disse Oliveira.
A hipótese foi comprovada. Os cientistas “vestiram” uma larva que geralmente é comida pelas formigas com o “traje químico” do herbívoro que é capaz de enganá-las. Conforme o esperado, as larvas passaram a não ser reconhecidas como presas pelas formigas.
“A camuflagem química já havia sido levantada na literatura, mas pela primeira vez demonstramos que um inseto herbívoro que atrai formigas consegue se proteger dos ataques delas por meio desse recurso”, apontou.
Segundo Oliveira, em ambientes tropicais, cerca de 90% dos artrópodes nas folhagens são formigas. “Elas são tão abundantes porque são animais sociais. Uma colônia de formigas pode ter milhares de indivíduos e isso responde por sua dominância nos ecossistemas tropicais”, disse.
O artigo Attracting Predators without Falling Prey: Chemical Camouflage Protects Honeydew‐Producing Treehoppers from Ant Predation (DOI: 10.1086/649580), de Henrique Silveira, José Trigo e Paulo Sérgio de Oliveira, pode ser lido na The American Naturalist em www.journals.uchicago.edu/doi/abs/10.1086/649580.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sem anéis nem dedos

Passadas mais de duas décadas de privatizações, as contas públicas continuam a ser um problema, e ainda mais grave. Aquilo que já se vendeu não se volta a vender sem gastar, de novo, dinheiro.

Não é com privatizações que vamos consertar as finanças públicas e, provavelmente, não é também por aqui que a produtividade vai aumentar; que a concorrência, amiga do crescimento, se vai reforçar; e que a economia em geral ficará mais forte. As últimas duas décadas assim o demonstram.

Quando Aníbal Cavaco Silva iniciou o processo de privatizações com uma cervejeira e um banco ninguém tinha dúvidas sobre os benefícios dessa política de liberalização e desregulamentação para a economia portuguesa.

As vendas de empresas públicas não eram, nos anos 80 como em parte da década de 90, políticas apenas focadas - ou só com impactos - na tesouraria pública. O Estado recebia dinheiro, sim, mas a economia em geral foi impulsionada para o mundo da racionalidade porque, de facto, as empresas que estavam a ser privatizadas seriam incontestavelmente melhor geridas segundo as regras do mercado.

Estávamos, na altura dessas privatizações, num jogos de ganhos em todas as frentes, que ultrapassavam largamente as receitas financeiras da venda das empresas. Foi a liberalização do sector bancário, com a privatização de bancos que a nacionalização tornou públicos, que criou as condições para a modernização do sistema financeiro português.

À medida que a política de privatizações entra no mundo das actividades em que a concorrência escasseia, os benefícios da racionalidade privada ficam dependentes de reguladores fortes e independentes, de leis simples, transparentes e que sejam aplicadas, de consumidores literados e exigentes e de autoridades políticas poderosas e incorruptíveis. Reúne Portugal todos estes atributos? Claro que não. Mesmo o mais optimista consegue identificar que não cumprimos vários requisitos que garantem o sucesso económico de privatizações de monopólios. Que garantem mais eficiência e equidade que no cenário de empresa pública.

As falhas das instituições e do Estado de Direito na economia reflectem em grande medida a ausência de uma cultura de mercado. Realmente, o País só vive em mercado desde há pouco mais de duas décadas, exactamente quando se iniciaram as privatizações. Não é por acaso que ouvimos com frequência confundir mercado com selvajaria ou anarquia.

A crise financeira com epicentro nos países anglo-saxónicos, os mais marcados pela cultura de mercado, é mais um factor a recomendar cautela nas privatizações.

Quando o mercado se impõe não se faz o que quer sem olhar a consequências, faz-se o que se pode, limitado pela acção e reacção do concorrente. É a concorrência com informação perfeita que nos conduz invisivelmente para a eficiência. É a luta pela sobrevivência que nos leva o pão à mesa. Não é a luta pela sobrevivência que nos leva a electricidade e a água a casa ou as cartas à caixa do correio.

A nova onda de privatizações nada tem de política económica. É vender o que está à mão para pagar dívidas, é atacar os dedos porque os anéis já se foram e não conseguiram melhorar as contas.

Helena Garrido

sábado, 17 de abril de 2010

O mito da falta de soluções

É a frase de uma geração política: os diagnósticos estão todos feitos, faltam as soluções. É mentira. Porque os diagnósticos não estavam todos feitos. E porque soluções houve e há. E à força haverá.

O diagnóstico está dimensionado no estudo do BPI, quantificado no Orçamento do Estado e qualificado nos mercados financeiros. O País endividou-se de mais para investir num prejuízo. Já tínhamos perdido a ilusão do caldeirão no fim do arco-íris. Agora ganhámos a desilusão de não haver sequer arco-íris. Era a refracção da realidade no caleidoscópio da política. As palavras partiram-se, eis-nos em números.

O que fazer? Decidir. Não faltam soluções. Mas decidir implica assumir riscos da impopularidade doméstica; exige a libertação das distribuições partidárias; e supõe a humildade de aceitar sugestões de outrem.

É só puxar pela memória. Do Ecordep, onde há dez anos Pina Moura, Fernando Pacheco, Teodora Cardoso, Rui Carp, Orlando Carriço e Vital Moreira escreveram 50 medidas para um plano de emergência para cortar a despesa pública. Estava lá tudo, mas à ovação académica sobreveio a gaveta política. Mais tarde, o Compromisso Portugal faria propostas na justiça, na segurança social, na saúde, na economia, nas finanças. Nada: os políticos atribuíram-lhes vis intenções e a sociedade colou-lhes nas testas cinco dos sete pecados mortais: vaidade, inveja, gula, avareza e luxúria. Pelo caminho, economistas como Vítor Bento e Eduardo Catroga escreveram receitas. Ainda este mês, o Instituto Sá Carneiro publicou uma síntese de medidas concretas, uma "reprise" do trabalho feito para as eleições do ano passado que o seu próprio partido, o PSD, desconsiderou.

Só obrigados tomaremos o óleo de rícino para as finanças públicas. No passado foi o FMI, no presente são as agências de "rating", que nos acantonaram junto da Grécia, da Irlanda e de Espanha no quarto escuro das preocupações. A Grécia congela, a Irlanda baixa salários, a Espanha aumenta idades de reforma, corta despesa a sério e restringe as entradas na Função Pública em uma entrada por dez saídas. Em Portugal, o Orçamento do Estado para 2010 tem como grandes medidas o congelamento salarial na Função Pública (que não trava o aumento dos custos com o pessoal, por causa das promoções e dos acordos "bilaterais" com os professores), o regresso das entradas condicionados na administração pública de uma entrada por duas saídas (que nunca foi cumprido) e a suspensão de obras públicas. É, já se disse, pouco.

Portugal não tem apenas medo de reformar: tem medo de mostrar que reforma. Veja-se o exemplo das reformas: Portugal fez discretamente o que Espanha anuncia, o aumento da idade média de reforma. Cá, os funcionários públicos aumentaram a idade de aposentação de 60 para 65 anos; e a introdução do factor de sustentabilidade mais não veio que "nomear voluntários" para trabalhar mais anos para não perder nas pensões.

O poder das agências de notação de risco foi por elas desmerecido, mas mantém-se. De pouco vale insultá-las ou com elas reunir para promessas vãs: são agências de "rating", não são agências de "dating". Por elas, por nós, façamos o que é preciso: cortar a direito nas contas públicas para voltar a pensar na economia.

Numa citação famosa, J.D. Salinger, que morreu na semana passada, dizia que a grande diferença entre felicidade e a alegria "é que a felicidade é sólida e a alegria é líquida". A gestação política (do PS, PSD e até do CDS) da nossa economia tem sido uma alegria. Saiamos deste estado líquido. Ou acabaremos liquidados.

Pedro Santos Guerreiro

segunda-feira, 12 de abril de 2010

ACHO QUE DEVEMOS GASTAR A VIDA

Não existe um significado ordinário para a vida, mesmo assim, arrisco uma concepção meramente poética: a vida é uma janela aberta pelo tempo, á vontade da natureza.
Para alguns, principalmente, aqueles que não compreendem o fato da existência humana ser uma dádiva, o fôlego é escasso; e, este, logo se extingue. Outros, no entanto, preservam as instruções e conseguem viver longamente sem excessos; felizes, por assim dizer. Então, o segredo da longevidade está na dosagem correta do elixir?
Acompanhamento espiritual; um pouco de divertimento e ar fresco; amar até onde der para amar; fazer sexo seguro e não inventar certas posições acrobáticas; tomar água quase sempre; comer pouco sal; usar um Lorax para ajudar a dormir; e nada de TV ou filmes que nos façam chorar. Da forma como eu estou colocando deixa a impressão de que a receita da vida está numa bula, dessas de remédio. É! Quem sabe? Acho que devemos gastar a vida. Mas bem melhor é fazer isso a conta gotas.
Dizem que a infância é a pior das fases. Quando jovens, simplesmente, passamos pela vida, igual a um carrossel de cavalinhos, e damos voltas ao redor de nós mesmos, e de repente, tornamo-nos homens. O que criamos na infância? Castelos de areia. Ou será este o segredo: a inocência da idade?
As coisas não acontecem na infância; elas terminam na infância. Nada germina ali... Mas, os sonhos não são como sementes? No máximo há um período de transição, contudo que pode também nem existir. A infância é a fase das poucas definições. A infância é quase o vazio. Isso por que na infância tudo nos conduz a uma formação. Diz-nos quem somos. E ás vezes nem queríamos ser o que nos tornamos.
A infância só nos deixa boas lembranças; até as feridas somem, com o tempo. Os nossos pais parecem que aproveitam mais a nossa infância que nós mesmos. E isso pode ser também uma resposta. Por causa disso, acredito que somos, apenas, meio e não me atrevo a essa parte.
A velhice é a mais serena das idades. É quando já enxergamos tudo. É quando estamos nos desprendendo da vida. Na velhice, aceitamos a idéia do descanso, não como um passamento, mas como um último experimento, o que nos faltava para ser completo, sabe se lá? É um grande triunfo conseguir beirar os setenta na lucidez dos anos, quando o corpo ainda nos deu sinais de decrepitação; não reclamou de inchaços; nem apontou algum riscado que nos remetesse às doenças psíquicas, pois é irremediável a idéia do esquecimento.
O velho é sábio. E, por isso, reaprende a viver. Não conserva os hábitos e prazeres de antigamente, uma vez que não são mais importantes. A velhice é uma graça! Cada ruga que sulca a pele é uma cicatriz de verdade. E dor surge de crescimento. Altivo, o espírito; combalida, a carne. Ambos formam um composto de conhecimento com honradez.
Ser velho é patrimônio. É ser um fiel depositário dos anos. Uma testemunha do que fora o próprio homem. É ser pele escamosa, flácida, pútrida. O velho é quem sabe ser a resposta a todas as perguntas. Quando vai á sepultura descontente, porquanto teve os seus dias na construção da sua própria biografia, é um tolo; um ancião apenas que morre por que assim está escrito.
Porém, se à cova desce um corpo, exaurido, por ter valorizado os seus dias; e, que, antes de se entregar à morte, fez questão de beijá-la, como que agradecendo por seu último suspiro... ali está um homem bem-aventurado, pois sabia que não havia mais o que fazer aqui. Viver é experimentar de tudo, inclusive da morte.
O que não se admite é um obituário antecipado no supérfluo. O zelo exacerbado é a ilusão do diabo. E o diabo é o que não conseguimos alcançar. Rasgo o minuto para expor um testemunho comum: a vida passa; e que bom que passa...
A barriga está mexendo no ventre da mãe. E pulsa; e pulsa; e pulsa; e, expulsa. E o coraçãozinho acelera o ritmo; frenético; alucinante. É a ansiedade. É a dor do parto. E o parto; e o parto; e o parto; e Eu parto sem vontade de ficar. E é na dor onde guardarei todas as saudades; e que só serão apartadas na hora da hora. A janela da vida fica entreaberta e ás vezes também fecha e revela o mistério do ciclo da vida.
No tumulo, uma flor de mato e uma borboleta solitária; havia um corpo, mas nem se fez questão dele. Uma alma agora vaga na espera do lugar onde as flores nunca murcham; onde os velhos serão sempre crianças e onde o tempo será apenas o tempo.

‘Misael Nóbrega de Sousa’

A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA

Na vida profissional, uma boa imagem pessoal é capaz de abrir portas, de ajudar a estabelecer confiança e de transmitir credibilidade. Contudo, construir uma imagem positiva requer atenção e conhecimento, especialmente sobre estética, etiqueta, ética e relacionamento interpessoal.
Observe, no dia-a-dia, o modo como as pessoas que transmitem uma boa imagem pessoal se vestem, se cumprimentam e conversam. Essas pessoas devem ser um espelho para você.
Manter uma imagem pessoal positiva faz bem para a sua vida pessoal e profissional, mas essa imagem tem de ser autêntica e coerente. Se a “embalagem” (aparência) não corresponder ao “conteúdo” (ser), todo o seu esforço cairá por terra. A correspondência entre “conteúdo” e “embalagem” é crucial quando se trata de credibilidade e credenciais. Há pessoas que aparentam possuir um vasto conhecimento sobre uma enorme gama de assuntos e, quando precisam de falar de algum deles, o fazem com a profundidade de um pires. Isso abala a credibilidade delas. E credibilidade é assim: uma vez arranhada, leva tempo para ser restaurada.
As pessoas precisam ter uma percepção equilibrada a seu respeito. É certo que nem todos o enxergarão da mesma forma, mas é preciso evitar antipatias. Bom, mesmo, é que todos possam vê-lo como uma pessoa confiável, competente, ética e transparente. Assim, você será sempre bem recebido!

Dicas para a construção de uma boa imagem pessoal:

1 – Identifique se a imagem que você transmite é positiva ou negativa e avalie a sua participação em grupos e a facilidade com que se relaciona com desconhecidos para saber se a sua imagem está agradada ou não.

2 – Seja cordial, educado e agradável; cumprimente a todos, independentemente do seu nível hierárquico; tenha sempre um sorriso no rosto e as palavras “obrigado” e “por favor” na ponta da língua.

3 – Fique atento à sua comunicação verbal e não verbal, evitando que o seu corpo diga uma coisa e as suas palavras outra.

Vestuário é um dos principais componentes da sua imagem pessoal. Mais importante que ter dinheiro para gastar em vestuário é ter bom senso e aprender a se vestir corretamente, de um modo que revele o seu estilo e a sua personalidade e de acordo com o contexto para o qual você se veste. Portanto, seguem-se algumas regras básicas em relação ao vestuário:

Formal

Terno e gravata para homens e terninho ou tailleur para mulheres.

Casual

Camisa com colarinho e manga longa, com calças de lã fria ou gabardine para homens, e twin-sets, camisas ou blusas de seda, com calça ou saias de lã fria ou microfibra para mulheres.

Esportiva

O jeans é permitido, mas só o tradicional.

Fuja sempre de modismos e opte por peças de qualidade e cimento impecáveis, que proporcionem conforto e elegância na medida certa. Mantenha unhas, cabelos e barba bem feitos, refletindo a sua higiene e preocupação com a aparência.

Evite

Roupas que não respeitem o nível de formalidade exigido, peças muito velhas, desbotadas ou mal cuidadas. As mulheres devem evitar as saias e vestidos curtos, blusas de alça ou muito decotadas, fendas profundas e brilho e transparências. Também devem evitar excessos de maquiagem, de perfume ou acessórios. Homens devem evitar bermudas, cabelos sem corte e barba por fazer.
Seja autentico! Vá além do primeiro encontro. Surpreenda as pessoas e prove que você cumpre o que promete. Aja sempre com ética, respeito, confiança e credibilidade e muitas portas se abrirão a você.

‘Lair Ribeiro’

A PAIXÃO E O AMOR

A paixão é adstringência de Ego, enquanto o amor é a sua libertação.
O primeiro é união efêmera.
O segundo é comunhão duradoura.
A paixão se gasta.
O amor se consolida.
A paixão envereda pelo egoísmo.
O amor sabe ceder, porque se basta a si mesmo.
A paixão pode explodir os ânimos, e por isso, se fecha em copas.
O amor não tem pressa, porque conhece outras direções.
A paixão se tece de duvidas e inquietações.
O amor, de confiança e compreensão.
A paixão cega. O amor é vigilante.
A cegueira pode levar ao desatino.
A vigilância salva o homem de uma precipitação.
Pela paixão, cometem-se muitas tragédias.
Pelo amor, transpõem-se muitas barreiras.
A paixão é cheia de reticências; o amor, de admirações.
A paixão se engalana com jóias; o amor com estrelas.
A paixão é temporária.
O amor é inesquecível.
Enfim, a paixão envelhece e morre; o amor permanece, porque é eterno.

‘Magna Celi’

sexta-feira, 9 de abril de 2010

VORAGEM

Rostos que nunca vi, jacintos murchos cujas sonatas frias me tocaram, estes rostos não quero: eles são breves no desfile das pálpebras cerradas. Penso naqueles outros, familiares rostos de toda a vida. Cataventos da rua ainda sem nome, alagadiço porão da infância, arpejos e trigais, dai-me a ver novamente ou mesmo em sonho, estes semblantes nunca repetidos, graves alguns, mas todos inseridos na memória dos dias voluntários. Cemitério, talvez, dessas lembranças, todas, em mim, são rosas e crianças.

Jorge Tufic

A FÍSICA DO SUSTO

O espelho caiu da parede. Caiu com ele o meu rosto. Com o meu rosto a minha sede. Com a minha sede meu desgosto. O meu desgosto de olhar, no espelho caído, o meu rosto.

Cassiano Ricardo

quarta-feira, 7 de abril de 2010

DAVA A ULTIMA CAMISA POR UM POEMA

Dava a última camisa por um poema. Domingo ao fim da tarde só restam cinzas. Todos. Tudo inteiramente consumido. Tudo, o quê? Segunda, sobrava alguma palavra intacta na lareira? Terça tão comprida como um ano Quarta, outra vez a esperança Não, sem poema não se pode viver! Quinta a memória entra em pânico A pouca claridade que restava anoiteceu também na Sexta as vagonetas com o meu minério perdem-se no túnel. Sábado: trabalho em vão! Domingo tudo recomeça e voltava a dar a última camisa por um poema

Jan Kostra, trad. de Ernesto Sampaio

segunda-feira, 5 de abril de 2010

HERDEIROS DAS CAPELAS IMPERFEITAS


Somos de pura raça lusitana,
Herdeiros de um incerto Viriato,
De um bastardo que foi prior do Crato,
Dos que foram além da Taprobana.
Vendemos lã para comprarmos “lana”,
(“Caprina”, que é negócio mais barato.)
E já produz mais fumo o nosso mato
Do que oxigénio a nossa mata emana.
Povo de heróis, de artistas e de santos,
(Líamos assim… sábios, outros tantos…),
Em seus brandos costumes ledo e manso.
Mas ter como morada este país,
E mesmo assim viver sempre feliz,
– Oh! meus amigos, só de santo ou tanso.


In Aspirina B