quarta-feira, 27 de abril de 2011

REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL: UMA HISTÓRIA MAL CONTADA

O Povo Português não gera Revoluções

As revoluções portuguesas são como a ponte de Lisboa. Antes do golpe de estado chamava-se “Ponte Salazar” depois passou a chamar-se“ Ponte 25 de Abril”. Apenas mudam a fachada e a lata. O povo, tal como o rio Tejo, cansado de inúmeras voltas e de tantos despejos, sempre pacífico e adaptado, tem permanecido igual a si mesmo, ao longo da História: vagaroso mas internacional(1).
De época para época, alguns insatisfeitos do sistema, os filhos dos senhores do regime, provocam um golpe de estado, apoderam-se dele e mudam-lhe o nome. Povo e golpistas conhecem-se de ginjeira: aquilo a que dão o nome de revoluções, pouco mais se trata do que da troca de nomes, dum acerto de contas e de acomodação à história dos vizinhos; o mérito do acontecimento está em dar ocasião à necessidade do povo festejar e aplaudir ou, quando muito, resolver alguns deveres de casa esquecidos. Os actores sabem que a injustiça não é boa mas a justiça seria incómoda. Optam então pela vida dos dos “brandos costumes” sem a preocupação de fazer justiça.
Arranjam um nome monstro para justificarem as suas acções e branquearem as suas intenções. No caso do 25 de Abril, um grupo de cretinos (2) aplicou ao regime autoritário de Salazar o nome explosivo de fascismo, metendo-o (internacionalizando-o) assim no mesmo rol de Franco, Mussolini, Hitler e Pinochet. Então, a nação inteira passou a dar-se conta do monstro e resolveu dar caça ao fantasma. Este vai recebendo cada vez mais atributos até que passa de lobo a Minotauro. A partir deste momento o povo perde a ideia passando a viver do medo do labirinto. Entretanto vão surgindo alguns lobitos e o povo vai distraindo o medo no “Jogo ao Lobo”!
O país da Europa com as maiores desigualdades sociais entretém-se em argumentações opiniosas deixando as coisas importantes para os nomes engordados em nome das classes desfavorecidas. Já habituado à humilhação e à atitude governativa arrogante e distante, o povo servil, filho da “revolução da liberdade” até aceita a censura em nome da democracia. O estado português já há séculos não tem povo, chega-lhe a população. A população já há séculos que abdicou de o pretender ser, contentando-se em viver na sombra da Face Oculta do Estado. Deixou o palco da nação aos dançarinos do poder!
O 25 de Abril passou – A Revolução está por fazer
Golpistas abusam do Nome Revolução
Com o golpe de estado de Abril, o regime autoritário é acabado no meio da guerra colonial. O povo português, o que quer é esquecer a guerra e os políticos o que querem é a confusão para se poderem organizar e não terem de assumir responsabilidade pela traição dos interesses da nação, dos retornados e do povo nativo. Segundo o reconhecido historiador José Saraiva, o abandono das províncias ultramarinas constituiu “a página mais negra da História de Portugal”. Disto não se fala; reduz-se a história a folclore e a governação ao jogo do rato e do gato…
O 25 de Abril assenta em pés de barro. Fez um golpe de Estado e deu-lhe o nome de revolução. Os seus actores não pensavam em revolução. Foram surpreendidos pelos acontecimentos que eles próprios provocaram e alguns, entre eles, (especialmente Otelo S. de Carvalho) serviram-se do comunismo/socialismo para legitimarem e darem uma projecção histórica ao movimento dos oficiais descontentes. O 25 de Abril foi um golpe de Estado que surgiu de motivos pessoais e antipatrióticos de alguns, mas nunca uma revolução. O novo regime começou mal e com actos inglórios tal como acontecera na implantação da república. Mas disto não deve rezar a História, o povo precisa de festa e os governantes de distarcção. Não importa viver, interessa é ir-se vivendo!
O programa MFA (Movimento das Forças Armadas) pretendia Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. Os primeiros dois anos foram uma confusão maluca. Tudo era facho e qualquer jovem adolescente se armava em guarda de comícios, por vezes até de metralhadora na mão. Recordo que quem tinha um emprego bom, ou uma casa digna, logo era apelidado de “facho”, pelo povo gozador, num misto de atmosfera de inveja e admiração. Depois com a nova constituição tudo ficou camarada e irmão: camarada de facho na mão!
Os partidos, sem mérito, passam a viver do prazer de terem organizado as suas fileiras. Desfavorecem a politização do povo para fomentarem o partidarismo e um discurso público dirigido à conservação do poder.
Entretanto, o povo sente-se humilhado e deprimido; o seu sentimento de identidade definha, sendo compensado apenas no sentimento duma grandeza promissora dos irmãos da lusofonia e da madrasta União Europeia. O sentimento de identidade nacional baseado no cristianismo, na cultura nacional e na ideia das grandezas dos descobrimentos não agradam às novas elites internacionalistas. A má experiência do povo com a própria elite, sem sentimento de nação nem de povo, leva-o a sentir-se apenas como inquilino anónimo de alguns senhores da praça pública, dos canonizados da democracia. Sente-se filho de pai incógnito!
Portugal continua preso numa mentalidade de arrendatário de ideologias e senhorios mercenários que o povo tem de acatar para ir vivendo! Portugal, apesar de golpes de estado e de pseudo-revoluções, continua a sofrer na pele a experiência de outrora: a experiência dos ingleses senhores das quintas do vinho do porto que viviam na Inglaterra e tinham em Portugal os seus feitores portugueses a cuidar dos seus interesses. O Estado português tornou-se numa feitoria de alguns mercenários. Daqui vem a sabedoria portuguesa que, muitas vezes, diz: “ isto é para inglês ver”.
As nossas elites intelectuais não são em nada inferiores às europeias. O problema está no seu individualismo e na sua falta de consciência de povo, e de espírito colectivo! As elites políticas vivem do nome, interessando-se, a nível de país, apenas por terem Lisboa, como sala de visitas de Portugal onde elas podem receber vaidosamente os amigos. Colaboram com um internacionalismo interessado em destruir as nações para depois poderem surgir como salvadores e implantar um governo mundial de burocratas e tecnocratas contra os biótopos nacionais.
.
O povo, antigamente, sofria sob a bandeira do trono e do altar; hoje sofre sob a lama das massas a toque de caixa partidária que segue o ritmo das multinacionais.
A grande diferença: Hoje o povo não se pode queixar, porque os seus opressores vêm do seu meio e parte deles são eleitos democraticamente.
Já Ovídeo escrevia nas Metamorfoses: “O destino conduz os de boa vontade e arrasta os de má vontade”. Com a celebração do 35° aniversário do golpe, já seria tempo de Portugal ir à cata dos de boa vontade!...
O aniversário do golpe de estado poderá deixar de ser um pretexto para se tornar numa oportunidade. Urge descobrir a nação e ter a vontade de se assumir como povo. O grande povo e a nação valente que “deu novos mundos ao mundo” tem-se manifestado incapaz de se descobrir a si.
Um Estado é como uma planta. Se adoece, os parasitas cobrem-na facilmente. O país tem-se modernizado; não tem inimigos nem ódios mas encontra-se apático e doente. Depois do golpe de Estado, o fanatismo republicano e o oportunismo continua a tradição da “apagada e vil tristeza” dum conservadorismo míope e dum progressismo cego! Os cães de guarda do Estado contentam-se em morder e em ladrar alto e o rebanho atemorizado lá se vai movendo no respeito à própria lã que vê nos dentes deles!
Acabe-se com o louvor do golpe e dos golpistas. Não notaram ainda que a revolução se encontra, desde há séculos, por fazer! Para nos levarmos a sério teremos de descobrir primeiro o povo e a nação. Então seremos capazes de enfrentar as desgraças históricas, sejam elas progressistas ou conservadoras. Há que aceitá-las, para nos podermos mudar e assim mudar o rumo português para o bem-estar de todos, nacionais e estrangeiros. Para isso precisam-se mulheres e homens adultos! “O povo unido jamais será vencido”, cantam as sereias, na certeza de que ele se embala na música e não se descobre como povo! Não vale a pena o queixume. Quem se queixa é pobre ou não pode! Trata-se de mudar mudando-se! A nação precisa de todos.

António da Cunha Duarte Justo 

(1)     Salvaguardem-se as diferenças regionais da população. Esta é muito diferenciada e rica, tal como os seus rios e a sua paisagem!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Criação de circuitos de luz

Quando a norte-americana Michal Lipson começou seus estudos em fotônica do silício há dez anos, poucos na comunidade científica a levaram a sério. A ideia de substituir os elétrons por fótons (porções minúsculas de luz) no transporte de dados dos processadores era extravagante demais, segundo conta a própria pesquisadora.
Por insistir no trabalho, Lipson figura entre os pioneiros nessa área e é um dos nomes mais respeitados entre os especialistas que estão desenvolvendo o novo paradigma da arquitetura de hardware, o computador com componentes fotônicos, tecnologia que permitirá retomar o ritmo do aumento de velocidade dos processadores e tornar possível a construção de objetos de ficção científica como mantos de invisibilidade.
A cientista possui fortes laços com o Brasil, onde morou até os 19 anos. Ela é filha de Reuven Opher, professor titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e coordenador do Projeto Temático "Nova Física no Espaço – Formação e Evolução de Estruturas no Universo", apoiado pela FAPESP.
Lipson é irmã da astrofísica Merav Opher, professora da Universidade George Mason, também nos Estados Unidos, que investiga a evolução de ondas de choque e camadas não-lineares de plasma associadas ao vento solar.
Lipson fez os dois primeiros anos de graduação em física no Instituto de Física da USP, curso que concluiu em 1992 no Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), instituição na qual também fez o mestrado e o doutorado em física.
Entre 1999 e 2001, fez pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), nos Estados Unidos, onde desenvolveu com o professor Lionel Kimerling trabalhos em fotônica do silício.
Desde 2001, é professora na Universidade de Cornell, onde coordena o grupo de nanofotônica da instituição (Cornell Nanophotonics Group, CNG). Em 2010, foi condecorada com o MacArthur Fellows Program, premiação de US$ 500 mil destinada a talentos promissores em diversas áreas.
Lipson esteve entre os conferencistas convidados para o Workshop Fotonicom/Cepof, realizado em novembro de 2010 em Atibaia (SP) e organizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Fotônica para Comunicações Ópticas (Fotonicom) e pelo Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica de Campinas (Cepof), ambos apoiados pela FAPESP.

Agência FAPESP – A eletrônica permitiu a construção dos processadores atuais presentes nos mais diversos dispositivos desde relógios de pulso até os supercomputadores. O que a fotônica pode oferecer neste momento?

Michal Lipson – A eletrônica atual já encontrou os seus limites. A lei de Moore, que estimou que a cada 18 meses os processadores dobrariam de capacidade, era observada até alguns anos atrás. Porém, hoje, ela não se verifica mais. Ao comprarmos um computador novo hoje, ele terá uma capacidade muito próxima à de uma máquina fabricada há dois anos. Ou seja, a teoria de Moore está estagnada e a óptica pode abrir as portas para que essa revolução proporcionada pela microeletrônica possa continuar.
Agência FAPESP – Qual é a limitação da eletrônica?
Michal Lipson – O problema está basicamente na dissipação de energia. Os fios elétricos esquentam e dissipam muita energia quando transportam os elétrons a longa distância. E longa distância para os elétrons significa passar de um lado para outro do próprio chip, algo como 1 centímetro, por exemplo. Chamamos isso de interconexão longa e é justamente nesse ponto que a óptica tem muito a contribuir.
Agência FAPESP – Como a óptica resolve esse problema?
Michal Lipson – Diferentemente dos fios elétricos, os dutos de luz não dissipam energia, ou seja, não há perdas.
Agência FAPESP – A fotônica pode substituir totalmente a eletrônica?
Michal Lipson – Não. Os circuitos do futuro serão construídos por meio de uma integração entre fotônica e eletrônica. Isso porque a eletrônica ainda é muito eficiente no processamento de informações e há espaço para novas tecnologias nesse ponto. Por isso, o processamento ainda será eletrônico. O problema que estamos enfrentando está na transmissão dessa enorme quantidade de informação e em uma velocidade muito alta, um processo que dissipa bastante energia.
Agência FAPESP – Essa transmissão de dados ocorre no interior do processador?
Michal Lipson – Esse transporte de dados ocorre também entre os componentes microeletrônicos do computador, como entre a memória e o processador, e entre um processador e outro. Esse processo todo influencia na velocidade da máquina. Por isso, o computador do futuro próximo terá componentes eletrônicos com conexões ópticas. Dentro de dez anos, teremos máquinas funcionando com luz em seu interior.
Agência FAPESP – Quais são os desafios para chegar a essa nova geração de computadores?
Michal Lipson – Basicamente, conseguir a interação entre eletrônica e a fotônica. O trabalho do nosso grupo de fotônica do silício foi importante por ter demonstrado que essa interação é possível. Mostramos que é possível fazer fotônica utilizando a mesma tecnologia da microeletrônica e as futuras máquinas poderão utilizar a mesma plataforma usada hoje.
Agência FAPESP – Como começaram as pesquisas em fotônica do silício?
Michal Lipson – Essa área foi iniciada por vários cientistas no mundo e o meu grupo em Cornell foi um dos pioneiros. É uma área nova. Os primeiros artigos científicos foram publicados em 2004 e tratavam de moduladores de silício. Meu grupo demonstrou o primeiro desses dispositivos.
Agência FAPESP – Como estão as pesquisas hoje? A eletrônica e a fotônica já estão interagindo?
Michal Lipson – Estamos muito perto disso. É importante ressaltar que em 2004 havia pouquíssimos grupos de pesquisa trabalhando com fotônica do silício. Quando eu comecei a minha carreira em Cornell, em 2001, era muito comum eu ser questionada durante as minhas palestras com perguntas como: “Por que você pesquisa essa coisa maluca?” Hoje todas as maiores universidades do mundo investigam eletrônica do silício, assim como as grandes empresas mundiais do ramo de microeletrônica. Estamos falando de IBM, Intel, Motorola e vários outros gigantes que investem pesado no desenvolvimento da fotônica do silício.
Agência FAPESP – Já existem experimentos bem-sucedidos dessa integração entre fotônica e eletrônica?
Michal Lipson – A Intel demonstrou recentemente um importante avanço dessa integração. A IBM está envidando grandes esforços nesse sentido por meio de uma parceria com o MIT. O nosso grupo em Cornell está entre os mais fortes nessa pesquisa e eu acredito que em dois anos, ou até menos, teremos uma demonstração da eletrônica conversando com a fotônica e fazendo uma comunicação de massa. Atualmente, o que temos são componentes individuais que trocam sinais entre eles. Meu grupo realizou um experimento que enviou um sinal elétrico que passou da eletrônica para a óptica e depois fez o sentido inverso, da óptica para a eletrônica. Isso a gente demonstrou no chip. O que falta é integrar todos os componentes processadores, memória etc., simultaneamente.
Agência FAPESP – Esse seria o novo paradigma da arquitetura de computação?
Michal Lipson – Sim. Há outras tecnologias para o futuro, como o computador quântico, mas ainda é para um futuro mais distante e ele não servirá para todas as aplicações. Ele não deverá substituir completamente a tecnologia computacional, pois será adequado para tarefas muito específicas e só para o processamento de dados. Portanto, a fotônica é a melhor candidata para a próxima tecnologia de computação, na área de transmissão de informação.
Agência FAPESP – Quais seriam as outras aplicações da fotônica?
Michal Lipson – Agora que estamos conseguindo fazer uma fotônica em chips e com alta qualidade, muito superior ao que tínhamos há dez anos, abriu-se caminho para várias outras aplicações. Uma delas é a biofotônica, aplicação que lança mão de ferramentas de análise de estruturas biológicas, como as pinças ópticas, e também em terapias. Além dessa, o setor de telecomunicações está entre os mais beneficiados pela fotônica, porque ela permite a redução do chamado custo por bit, ou seja, torna-se cada vez mais barato transportar grandes volumes de informação. Também a manutenção é mais barata, pois não há necessidade de controle de temperatura da rede e outras limitações próprias da eletrônica.
Agência FAPESP – Quais outras possibilidades que a fotônica poderá proporcionar?
Michal Lipson – Nossa equipe começou a trabalhar no desenvolvimento de um tecido de silício que desvia a luz. O objetivo é gerar invisibilidade. Começamos a fazer isso com objetos minúsculos para que um dia seja possível provocar esse efeito em maior escala. A divulgação dessa pesquisa em 2010 provocou grande repercussão na imprensa
(National Geographic, BBC).
Agência FAPESP – Como funciona esse mecanismo de invisibilidade?
Michal Lipson – A ideia é cobrir o objeto com um manto, mas não queremos que esse tecido seja percebido. Só enxergamos um objeto porque os raios de luz que batem sobre ele são refletidos e alcançam os nossos olhos. Para gerar a invisibilidade, precisamos captar os raios de luz e desviá-los ao longo da capa sem permitir que a luz interaja com o tecido e assim esconder qualquer objeto sob ele. Conseguimos esse efeito com peças minúsculas e utilizando componentes fotônicos. Em um futuro bem mais distante, acredito que será possível esconder grandes objetos com o auxílio da fotônica.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Capital em Fotos


Desde muito jovem sou encantado por fotografias, em especial, àquelas que registram a nossa memória histórica. Bem garoto, mesmo, ficava horas a fio olhando as fotos do “álbum de família”, observando tudo aquilo não sabe com um pouquinho de inveja, de admiração ou de espanto.
            Vejo-me, mais uma vez, com esse sentimento renovado ao escarafunchar o livro “Parahyba – Capital em fotos”, presenteado pelo amigo e autor da obra, Gilberto Stuckert, onde magistralmente põe em foco a memória visual e poética de nossa cidade, através das lentes da família “Stuckert”.
            Antes de ser brindado com seu livro histórico, falamos de nossa adolescência no Conjunto Boa Vista, atual bairro dos IPÊS, de nossa experiência futebolística como “jogador de várzea” – campinho de terreno batido, e das incontáveis travessuras juvenis. Ah, doce nostalgia. Cada vez que o escutava, fabricava dentro de mim um novo nó, bloqueando um pranto capaz de encher caldeirões.
            Nessa viagem extraordinária, fiel ao seu ideário, Gilberto mostra o trabalho fotográfico – com engenho e arte, régua e compasso, coragem e emoção – produzido pelo saudoso Eduardo Stuckert (avô) e Gilberto Lyra Stuckert (pai). Com destaque o Centro Histórico de João Pessoa, através das edificações do Hotel Globo, a Casa da Pólvora, a Catedral Nossa Senhora das Neves e o casario da Cidade Velha, ilustrando com perfeição as fachadas, interiores, monumentos e detalhes arquitetônicos de encher os olhos.
            Li em algum lugar que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final. É verdade, sim! Não poderia ser diferente no seio dessa família de artista: inventivo, instintivo, inspirador e inovador na arte de fotografar. O livro bem demonstra isso quando retrata uma série de fotos da respeitada professora Anayde Beiriz, determinada e muito avançada para os padrões da época.
             O conjunto de fotos contém uma magia que emociona. Notadamente, os festejos carnavalescos, as praças, as praias, as ruas, os transportes e os tipos populares. E mais: exibe uma plêiade de grandes fotógrafos que fizeram escola na Paraíba durante muito tempo.
            Parece implausível, mas acredito que nós perdemos protagonismo, ousadia. Estamos fragmentados e absolutamente dependentes do Estado em razão de sermos lenientes e tolerantes na luta pela preservação da autencidade, beleza e importância da marca cultural de nossa cidade.
            Sabe-se, de resto, que estamos simplesmente varrendo a sujeira para debaixo do tapete. Motivos, caro Gilberto, olhar para cima e blasfemar: Agora chega!!!


                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                  (lincolnconsultoria@hotmail.com)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um País de eleição

Portugal está de novo em eleições. São mais dois meses de propaganda política e de contorcionismo. Mas não só: de agressão. Chegaremos ao Verão a lamber as feridas.
O pedido de ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira, uma construção da União Europeia com o FMI (que foi incluído por pressão da Alemanha aquando do resgate improvisado à Grécia), passou a estar no centro do debate. Esperemos que esse estigma passe rapidamente. De outra forma, arriscamo-nos a fazer das eleições um plebiscito sobre quem foi o culpado desta crise política em vez de decidir quem nos vai gerir na crise de financiamento - e tirar deste estado medieval de crise económica permanente.

O calendário das nossas dificuldades tem muito meses pela frente. Não é apenas a aflição deste momento. Como mostra a manchete de hoje do Negócios, a catadupa recente de empréstimos de curto prazo, feita a quaisquer condições, está a substituir empréstimos de longo prazo, o que cria um pressão financeira constante: o primeiro semestre de 2012 será seguramente infernal para o Instituto de Gestão de Tesouraria e do Crédito Público.

O próximo Governo, seja ele qual for, terá trabalhos hercúleos que deveriam estar no centro desta campanha eleitoral. Não basta não vender sonhos aos portugueses, como pediu, e pediu bem, o Presidente da República. É preciso explicar como se resolvem os pesadelos: a falta de financiamento deste momento; a austeridade que isso vai implicar, e que há-de resultar noutro PEC e provavelmente num Orçamento do Estado rectificativo; que política económica será necessária e que política social será possível; que entendimentos políticos internos são necessários, que sujeição política externa isso implicará.

Se tudo correr bem, o próximo Governo e as suas muletas externas debulharão o terreno para, no final do mandato, o País estar preparado para voltar a andar pelo próprio pé. Serão vários anos até lá (três a cinco, prevê Vítor Bento), durante os quais estaremos sobretudo a pagar dívidas e a baixar nível de vida. E deveria ser nisto que a próxima campanha eleitoral (que não oficialmente já começou) deveria estar centrada. Não sobre a interpretação do passado, mas sobre as possibilidades de futuro.

Este fim-de-semana serviu para confirmar que a campanha não vai ser nada disto, vai ser uma guerra sem quartel. O PS, desabrido, faz de oposição à oposição usando a ideologia para fugir à derrota; o PSD, triunfalista, aponta os erros do Governo e tenta provar que tem estofo para merecer a vitória. E o Presidente da República, mesmo que não o queira, vai estar no centro de debates. E de ataques.

As últimas eleições legislativas foram suficientemente recentes para nos lembrarmos do logro. Venderam-nos a imagem de um País em versão plastificada, deram-se aumentos salariais e distribuíram-se subsídios sem pudor. Hoje isso não é tolerável. Mas tem de sobrar mais do que o ataque e a destruição dos adversários políticos.

Os partidos são máquinas feitas para ganhar eleições, a governação vem depois. E os políticos concordam com Álvaro de Campos, quando ele escreve na "Tabacaria" que "o mundo é para quem nasce para o conquistar!/ E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão." Destas eleições, o que Portugal precisa de ganhar é razão.
"Pedro Santos Guerreiro"

sábado, 2 de abril de 2011

Estudo do Economista Álvaro Santos Pereira

Portugal tem hoje 349 Institutos Públicos, dos quais 111 não pertencem ao sector da Educação. Se descontarmos também os sectores da Saúde e da Segurança Social, restam ainda 45 Institutos com as mais diversas funções.
Há ainda a contabilizar perto de 600 organismos públicos, incluindo Direcções Gerais e Regionais, Observatórios, Fundos diversos, Governos Civis, etc.) cujas despesas podiam e deviam ser reduzidas, ou em alternativa – que parece ser mais sensato – os mesmos serem pura e simplesmente extintos.
Para se ter uma noção do despesismo do Estado, atentemos apenas nos supra-citados Institutos, com funções diversas, muitos dos quais nem se percebe bem para o que servem.
Veja-se então as transferências feitas em 2010 pelo governo socialista de Sócrates para estes organismos:



ORGANISMOS
DESPESA (em milhões de €)
Cinemateca Portuguesa
3,9
Instituto Português de Acreditação
4,0
Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos
6,4
Administração da Região Hidrográfica do Alentejo
7,2
Instituto de Infra Estruturas Rodoviárias
7,4
Instituto Português de Qualidade
7,7
Administração da Região Hidrográfica do Norte
8,6
Administração da Região Hidrográfica do Centro
9,4
Instituto Hidrográfico
10,1
Instituto do Vinho do Douro
10,3
Instituto da Vinha e do Vinho
11,5
Instituto Nacional da Administração
11,5
Alto Comissariado para o Diálogo Intercultural
12,3
Instituto da Construção e do Imobiliário
12,4
Instituto da Propriedade Industrial
14,0
Instituto de Cinema e Audiovisual
16,0
Instituto Financeiro para o Desenvolvimento Regional
18,4
Administração da Região Hidrográfica do Algarve
18,9
Fundo para as Relações Internacionais
21,0
Instituto de Gestão do Património Arquitectónico
21,9
Instituto dos Museus
22,7
Administração da Região Hidrográfica do Tejo
23,4
Instituto de Medicina Legal
27,5
Instituto de Conservação da Natureza
28,2
Laboratório Nacional de Energia e Geologia
28,4
Instituto de Gestão do Fundo Social Europeu
28,6
Instituto de Gestão da Tesouraria e Crédito Público
32,2
Laboratório Militar de Produtos Farmacêuticos
32,2
Instituto de Informática
33,1
Instituto Nacional de Aviação Civil
44,4
Instituto Camões
45,7
Agência para a Modernização Administrativa
49,4
Instituto Nacional de Recursos Biológicos
50,7
Instituto Portuário e de Transportes Marítimos
65,5
Instituto de Desporto de Portugal
79,6
Instituto de Mobilidade e dos Transportes Terrestres
89,7
Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana
328,5
Instituto do Turismo de Portugal
340,6
Inst. Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação
589,6
Instituto de Gestão Financeira
804,9
Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas
920,6
Instituto de Emprego e Formação Profissional
1.119,9
                                                                     TOTAL.........................
5.018,4

- Se se reduzissem em 20% as despesas com este – e apenas estes – organismos, as poupanças rondariam os 1000 milhões de €, e, evitava-se a subida do IVA.
- Se fossem feitas fusões, extinções ou reduções mais drásticas a poupança seria da ordem dos 4000 milhões de €, e não seriam necessários cortes nos salários.
- Se para além disso mais em outros tantos Institutos se procedesse de igual forma, o PEC 3 não teria sequer razão de existir.

Professor da Simon Fraser University, no Canadá. *